Sobre o curso
Concepção do curso
Estabeleceremos com subsídios éticos e teóricos provindos da práxis da psicanálise em seus mais de cem anos, o que nos urge a construções elucidando-nos necessárias intervenções clínicas sobre a injunção que um furo psíquico real, abissal e acéfalo que pulsa sem cessar, hoje, quase sem mediação, e que se faz modal imperando manifestações explícitas do sujeito a gozar por uma via direta qualquer que não o convoque lidar com sua hiância psíquica constitutiva; assim, o destitui da responsabilidade de se haver com a sua dor de existir no viver para ceder a um ideal ilusório de lapidação completa e perfeita do eu em um narcisismo reluzente precipitando-o num siderado imaginário modo de viver e morrer.
Trabalharemos na vertente que concerne à psicanálise, a transmissão da evolução de tais efeitos nas subjetividades da atualidade, refletidas como novos modos de adoecer - a dor é ser – que traduzem a morbidez de um gozo produzindo um modo nefasto de sub-viver.
Assim, debateremos sobre a função do psicanalista e a eficácia da psicanálise na contemporaneidade em seu “agir contra” os discursos homogeinizantes e tecnológicos de dominação e controle das subjetividades ao ofertarem gaia felicidade num fácil engodo imediatista; valeremos das inferências advindas das interpretações psicanalíticas que apontam e denunciam o lugar e a função deste gozo robotizado e de sonsa escravidão que flutua perante um Real indefectível, normatizando a devastação do sujeito e nos fazendo perguntar... o que pode a psicanálise onde impera o Real?
Concepção do programa
Em seu percurso com mais de um século de existência no qual testemunhou como fenômenos históricos muito mal-estar da humanidade lhe provocando interpretações dos acontecimentos e de seus efeitos inconscientes nas subjetividades e no coletivo, a psicanálise nos faz ocuparmo-nos de forma reflexiva e crítica sobre tais causações que, na contemporaneidade, com a desvalorização e a consequente diluição das representações simbólicas, impõem-se ao sujeito desenfreado disseminando pelo mundo uma contundente potencialização do sofrimento humano, devastando-lhe e o sobrepondo de forma mortífera em atos contra si próprio e contra todos.
Como as representações paternas não são mais uma referência tão consistente, atestamos na clínica cicatrizes que mal se fecham nas inéditas formas de sofrer com adoecimentos de um tempo em que o simbólico quase nada mais sustenta diante do insuportável, dando assim passagens a toda forma de crises e atuações radicais.
Estamos fundamentalmente numa época de demandas imperativas de puro gozo, de um desvario inefável que nos ameaça de forma incessante e muitas vezes aniquilável, por um non-sense que prescinde absolutamente de um Outro que lhe outorgue qualquer mínimo sentido e satisfação, ainda que temporário ou transitório.
Como suportar, então, os possíveis fatores determinantes desta época de gozos desbussolados para muito além dos demarcados pelos contornos e efeitos do mal-estar do desejo recalcado quando as suas representações poderiam nos contentar?
Em que ponto se encontra a psicanálise na sua tessitura teórica e em sua práxis no que concerne à escuta, elaborações, formulações, intervenções e manejos sobre este presente o qual nos adverte dos rumos do futuro?