Para falar sobre os pratos mineiros, precisamos nos debruçar sobre a História do Brasil. Isso porque a gastronomia do estado de Minas Gerais remonta ao Período Colonial, quando os primeiros esboços de estradas iam sendo desenhados em meio à mata.

Por ser uma região estratégica, Minas Gerais era palco de constante trânsito, principalmente de tropeiros que conduziam gado e bens essenciais rumo a outros estados.

Além disso, havia desbravadores atrás de ouro e pedras preciosas e os próprios portugueses que seguiam avançando rumo ao interior do país, além das fazendas que eram ali instaladas. Como não havia grandes comércios, basicamente se alimentavam do que tinham em mãos ou era produzido naquelas propriedades: carne, leite, ovos, queijos, vegetais, arroz, feijão, fubá, frutas etc.

Mas, sem saber, essa população, itinerante ou não, acabou criando pratos que duram até hoje e se tornaram a marca da culinária mineira. Não é à toa que as receitas lembram muito a comida da fazenda, com cozidos, assados, o famoso pão de queijo e os doces em compota.

Certamente, você já está com água na boca, certo? Então resolvemos criar este artigo com os 10 principais pratos mineiros que você precisa cohecer!

1. Bambá de Couve

Pode-se dizer que este é um dos “pratos mais mineiros”, surgido na cidade de Ouro Preto, nos tempos da escravidão. Sua base é um mingau de fubá, ao qual são acrescidos couve rasgada e outros ingredientes.

Historiadores dizem que o mingau de fubá sobrava da casa grande e era aproveitado pelos escravos. Além da couve, era comum acrescentar miúdos de porco, como pé e orelha. Na versão contemporânea, costuma-se colocar linguiça.

Um detalhe importante é que na receita original não se pica a couve com faca, e sim rasga-se com as mãos. Por isso, “couve rasgada”.

2. Feijão Tropeiro

Como o nome sugere, esse prato de herança colonial era um dos principais alimentos dos tropeiros ― dando-lhes muita energia para prosseguir viagem. Consiste em uma grande mistura de feijão-preto, ovos, farinha de mandioca crua, couve, bacon e linguiça picados. Tudo muito bem temperado com alho, cebola, louro e outros ingredientes. Você pode comê-lo sozinho ou misturar com acompanhamentos, como: arroz, farofa com bacon, couve crocante, arroz branco e costela ao molho de laranja e mel.

A iguaria ficou tão famosa que é prato oficial para quem visita o Estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, e uma das grandes inspirações para a gastronomia autoral mineira.

3. Frango ao Molho Pardo

Algumas pessoas podem torcer o nariz para esse prato, mas, acredite, ele faz muito sucesso até nos melhores negócios gastronômicos. Na receita tradicional, um frango é abatido e seu sangue recolhido em uma tigela. Para não coagular, usa-se vinagre. O sangue será a base do molho.

O frango é cortado em pedaços e temperado com uma mistura que leva vários ingredientes (cebola, alho, louro, pimenta-do-reino, sal, caldo de frango). Depois, é frito com um pouco de óleo.

Então, vamos para o molho, feito com o sangue, um pouco de farinha de trigo e tempero a gosto. O cozimento prossegue despejando o molho no frango e colocando tudo para refogar. Sirva com arroz, angu, quiabo e pimenta.

4. Frango com Ora-pro-nobis

Ora-pro-nobis é uma hortaliça popular em Minas Gerais, muito associada a tradições culturais e religiosas. Tanto que, se você for ao festival gastronômico de Tiradentes, certamente vai encontrá-la em vários pratos, como picadinhos, saladas, pães e omeletes.

Um desses pratos é o frango com ora-pro-nobis. Sem muito mistério, é um frango cozido em meio a uma robusta mistura da hortaliça.

5. Frango com Quiabo

Como você vê, o frango está em muitas receitas mineiras. Desta vez, na versão com “quiabo”. Embora seja um prato rejeitado por muitos desavisados, foi criada uma combinação perfeita com este fruto (não, não é um legume!), a qual você encontra em qualquer restaurante mineiro tradicional.

Aqui, duas curiosidades. A primeira é que o quiabo, oriundo da Etiópia, teria chegado ao Brasil com os escravos; a junção com o frango se deu pelo fácil acesso aos dois ingredientes.

A segunda curiosidade é que muita gente cozinha o prato com frango industrializado. Porém, o resultado só se aproxima da receita original se o frango for caipira.

6. Leitão à Pururuca

Pururuca é a pele do leitão com aquela textura áspera e cheia de crocância. Para isso, o leitão é assado com pele e esta é resfriada com gelo após o cozimento. O processo é completado jogando por cima óleo fervendo (alguns lugares substituem o óleo por maçarico). O choque térmico faz levantar aquelas bolhas crocantes.

Se você for a mercados populares ou botecos, é muito comum servirem somente a pururuca como petisco.

7. Tutu à Mineira

Tutu à mineira, ou tutu de feijão, nada mais é que uma pasta espessa de feijão com farinha de mandioca ou de milho. Tudo muito temperado. A iguaria também é frequente nos restaurantes típicos, servida em travessas de ferro e decorada com torresmo, cebolinha, cebola e ovos cortados em rodelas.

A principal curiosidade é que “tutu” é uma redução da palavra “kitutu”, presente no quimbundo ― língua africana banta mais falada em Angola, portanto, mais um prato de influência afro-brasileira.

8. Vaca Atolada

Prato que também remonta ao período colonial, era comum entre os escravos. Consistia em cozinhar em um caldeirão costela (geralmente bovina), com gordura e mandioca ― raiz muito comum à época.

Claro que você pode fazer uma versão mais light, com menos gordura, como é feito hoje. Mesmo assim, o prato não fica menos saboroso, graças aos ricos temperos utilizados no cozimento, como cheiro-verde, pimentões, alho, cebola e pimenta.

Outra versão da vaca atolada é a famosa “carne de panela”.

9. Doces de Tacho

Há muita briga para saber em qual estado alguns doces de tacho tiveram origem. No páreo você encontra, além de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e até o Rio Grande do Sul. Mas o fato é que nos principais mercadões e mercearias de Minas há potes de todos os tamanhos de compotas de figo, doce de abóbora cremoso, cocada cremosa, goiabada e por aí vai. Sem falar no famoso doce de leite, que tem várias versões, tanto para comer de colher quanto em tabletes para corte.

Além disso, aqui vale um destaque: a goiabada cascão, durinha por fora e cremosa por dentro. Esta é feita em grandes tachos de ferro ou cobre, em um processo muito delicado, passando por várias etapas até enformar.

10. Pão de Queijo

Para terminar, o inigualável pão de queijo, que vai bem de qualquer jeito. Em sua versão mais simples, puro, ou com recheios doces e salgados. Sim! As “pães de queijarias” deram um toque gourmet ao delicioso quitute, modificando a massa e acrescentando recheios que incluem até hambúrguer, linguiça ou doce de leite.

O surgimento da primeira receita teria acontecido na época do ciclo do ouro no país, principalmente nas fazendas mineiras, por conta da abundância de polvilho (goma), ovos, leite e queijos. Aliás, a receita original leva queijo meia cura ralado. Hoje, as variações são muitas.

Porém, a iguaria começou a se popularizar no Brasil somente na década de 1960, quando a mineira Arthêmia Chaves Carneiro ― aquela senhora simpática que aparece na logomarca da Casa do Pão de Queijo ― começou a produzir o pão de queijo, que ganharia escala industrial mais tarde. Salve o pão de queijo!

Neste post, você conheceu alguns dos pratos mineiros que viraram marca registrada dessa gastronomia única, que diz muito sobre nossa história. Esperamos que esteja com água na boca!

Agora nos diga, o que mais você gosta na culinária mineira? Deixe seu comentário aqui no post!